quinta-feira, 7 de março de 2024

Texto: Semana de Cinzas


Você entrou no meio da minha leitura. Meu lazer foi interrompido com seu olhar curioso e livre. Pensei, que belo atrevimento após mais um carnaval isolado, mas você correu ao me ver surpreso, e eu entendo. Certa vez, na escada, você estava como qualquer outra, atrapalhando o caminho e se espremendo para não ficar ali por mais tempo, mesmo assim o olhar curioso e livre me atingiu entre grades, arames e folhas de acerola. Quando saí, não te encontrei mais, mas outra que sempre esteve ali me esperava com um olhar cansado e um pouco desajeitado, ela fazia isso com todos, todo santo dia.

Ambos os olhares são bem-vindos para quem se sente só, e um dia você estava disposta a explorar: foi pega de surpresa! Agora meu olhar estava cuidando de longe e torcendo para que fosse recíproco. No dia seguinte, preferi ficar em casa, entre leituras você conseguiu fazer meu dia feliz e minha tarde infeliz, não seria a primeira, nem será a última. Me senti horrível, pensei enquanto sangrava... pensei enquanto lia... desejei que você se tornasse cinzas. 

Minhas feridas foram limpas na chuva, os arranhões me queimaram e as mordidas abafaram meus sentimentos. Detesto imaginar que só eu possa te ajudar. Que mundo é esse que lhe colocaria em minhas mãos?! Não tenho poder, tenho raiva ardendo em mim. Espero que sinta arrependimento, junto com a mesma raiva. Em outros carnavais eu serei curioso? Só sei que jamais fui livre, como você. Nosso amor durou até o fim de Fevereiro, Março só a lembrança ficou viva.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Texto: Você vai se Acostumar


É estranho... como me acostumei com tudo.

Muitas noites sem dormir me trouxeram bons momentos, pelo menos na minha memória. Olhar pela varanda um dia novinho, pássaros são o único sinal de vida, algumas horas depois serão tomados por barulhos de ônibus, carros com som no último volume, gente gritando. Você se acostuma, certo?

Assistir filmes que te fazem chorar, não por serem bons, mas tocam em uma pequena ferida (talvez o seu último sinal de fragilidade) que te enche de vontade de viver algo novo. Apagar todos os contatos, esquecer que existiram enquanto olhamos para uma página em branco que logo irei encher de recados, frases que dizem para onde vou e quando volto... tudo bem detalhado! É, eu não me acostumei com isso... faz falta sair sem dizer a ninguém, voltar sabe Deus quando.

Começar do zero é incrível! Meus olhos brilham com a oportunidade de dar passos que não foram previstos no momento que digitei esse texto. A ambição me torna alguém mais vivo, afinal, se estamos aqui... é melhor viver tudo, todas as virgulas, pingos nos "is" e até os parêntesis... pois sabemos o quanto eles escondem. Já nos acostumamos com esses parêntesis cujo conteúdo julgam não ser essencial, mas eu acho que é.

Estou diante de um final de semana incrível, com tudo que mais me anima nos dias atuais. Aos poucos a semana seguinte se encaixa com diversos afazeres que tornam seus dias úteis. Algumas coisas rotineiras que você pode se acostumar, e se forem feitas quase que diariamente, mais ainda.

A velha ambição planeja um pouco mais do que posso cumprir, e é claro que pra ela parece possível, são pequenas coisinhas que se eu fizer diariamente estaria completando seus objetivos. Infelizmente não estou interessado em agradá-la. Como humano, tento fazer o meu melhor... erro, e tiro folgas entre todos esses afazeres. Posso fazer um agora, e vou... mas logo volto e continuo esse texto? (minutos depois eu voltei!)

Dando continuidade ao álbum que está tocando (pausei na metade) , ouço pela primeira vez enquanto escrevo sem rumo... e é um prazer que queria ter em mais âmbitos da vida. Meus olhos com cansaço apreciam o dia com muito mais paixão do que quando eu durmo e acordo "a pulso". Talvez eu tenha me acostumado demais com isso... e não me orgulho.

A verdade é que sei que desafios ainda vão surgir nessa vida, e nesse instante eu estou grato pela inércia que me fortalece para o que virá. Vou ler isso no futuro, e tenho certeza que estarei mais forte e mais livre. Se eu não estiver... vou começar um pouquinho a cada dia, até me acostumar.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Texto: A estátua, o espelho e o sonho


A vida nos mostra formas confortáveis de agir. Se você começa a se entender e busca mostrar um pouco do que existe em sua essência, se torna cada vez mais difícil com a maturidade. É diferente da infância, quando somos incrivelmente previsíveis e estamos sempre encontrando algo novo para adicionar em nosso repertório. Hoje eu mostro que o tempo não é generoso quando você quer conhecer alguém que está ferido. Aconselho desde já que seja paciente, sempre vale a pena.

A ESTÁTUA:

Você me verá a distância, e mesmo que esteja perto não sentirá o que sinto. Talvez a beleza lhe atraia por alguns minutos, mas até ela passa... em minha face está esculpida a indiferença. Se tiver paciência verá pequenos movimentos, verá que o silêncio grita e cansa depois de anos imóvel. Apenas meus olhos vão te acompanhar (QUEM É VOCÊ?). Penetro em sua mente e sei todas as suas intenções, como a de qualquer humano... nada me interessa nesse raso. Você pode ler o que eu gosto, ou não gosto em uma pequena placa que consegue ser mais clara do que minhas expressões vazias. Eu estou lendo você, em cada reação.

O ESPELHO:

Em pouco tempo você foi mais longe que muitos, parabéns! Agora você vê o que quer ver, reproduzido em detalhes cada vez mais próximos da realidade. Que engano. Eu mostro o que você sente naquele momento... se está alegre, terei todo o prazer de mostrar algo mais leve em meu semblante. Se estiver triste, meu lado mais sensível sempre estará atento aos seus problemas. Você não vê como estamos tão conectados agora. Uma sincronia de sentimentos que custei a ver em minha vida plana. Você sabe que esse filtro não me engana, e infelizmente verá suas imperfeições em mim. Mesmo assim você terá de ser forte, fechar os olhos e encostar seu rosto na minha superfície... me pergunte: "como você se sente?"

O SONHO:

Em um abraço estamos mais vulneráveis. Seus olhos abertos agora veem uma pessoa, imperfeita demais para o céu, maligna demais para o inferno. Ainda sim o clima está mais ameno, como se o universo conspirasse a nosso favor. Você verá a casca daquela estátua fria que só viu o calor humano no dia que foi esculpida. O vidro do espelho está tão opaco, já não dá pra ver nada bonito. Em ambos existem rachaduras que você ignorou, e sim, elas sempre estiveram lá... me fazendo mais humano que a sua carne e osso. Torço para quando esse sonho terminar, que você veja coisas melhores em outros reflexos, em outras obras de arte... mas que não se esqueça desse infinito particular que dividimos um com o outro. O sonho acabou.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Texto: Às Vezes é Preciso Queimar Pontes


De volta a minha única fortaleza. A matriz que definiu o certo e o errado. Voltar sempre parece mais seguro quando lá fora não existem pontes que se ligam a esse núcleo. Fiquei bem mais confortável quando já não existia laços para uma rotina humana. O plano é tão bem orquestrado que ninguém se atreveria a atravessar os limites dessa região. Eu controlo isso? Talvez não seja tão fácil, mas eu pratiquei a tanto tempo que não sei qual outra função eu executaria. Só tenho a certeza que uma parcela é minha e o restante de outra pessoa.

Não abaixarei a guarda até que eu veja todos longe. Desconfiarei, discordarei e deixarei de lado qualquer um que não traga verdade em suas atitudes. Se você não levanta uma bandeira, quem é você diante dos problemas? Descobrir nossa missão em vida é bem mais complicado que isso, e quando descobrir... LUTE. Sem piedade, sem remorsos e, naturalmente, sem esquecer a hora de recuar. Não esqueça os golpes que quase o levaram dessa vez... estude, tire um tempo ou dois, três. O quanto for necessário, já que só você conhece o seu limite.

Aqui dentro podemos ver as alternativas, não existe pressa... escolha sabiamente e elimine as demais possibilidades. O foco é essencial para um guerreiro, e isso significa ser cabeça-dura, deixar a zona de conforto, abdicar de algumas companhias. Aquelas que gentilmente construíram as pontes até você... tão interessadas e interessantes ao mesmo tempo. Depois de um tempo juntos elas veem que não existe novidades em um reino de um homem só, e com um silêncio de madrugada desaparecem misteriosamente... as pontes são mantidas, junto com a lembrança que só um alimentou. Passado um tempo considerável, a mesma ponte me parece ter balançado, e não será seguro usá-la com essas cordas gastas e madeiras apodrecidas. Vamos queimar e assim evitar o pior.


Algumas para minha surpresa retornam, e por um minuto ficam incomodadas com a falta de acesso a um espaço que nem mesmo tiveram a decência de preservar. Nesse ponto existem os que se rebelarão como se isso fosse uma afronta, os que darão meia volta enquanto não expressam nenhuma emoção (a ideia de foi bom enquanto durou) e meu tipo favorito: os que entenderão que você fez o que achou melhor pra si mesmo, como um bom guardião. Esses mandarão sinais de que estão prontos para uma reaproximação e cabe ao tempo decidir se haverá uma nova ponte. Ganham pontos comigo só pelo fato de se esforçarem, algo raro de se ver.

A luta é eterna, como o fogo que queima tudo. As pontes são provisórias, e nem todas lhe levarão para as melhores conquistas. Só saiba que essa fortaleza estará sempre de pé, pois aqui existe um guardião decidido a afastar os forasteiros (leia-se contatinhos) que acham que esse templo é um parque de diversões. Não estou aqui para mudar ninguém, mas sim para gerenciar minha vida. Vou queimar pontes sem uso, vou excluir "amigos" que estão de enfeite, vou evitar os que me provocam incômodos, ignorar os que ignoram, e o carrossel da reciprocidade mostrará o quanto as relações estão fluidas. Nada é pra durar.

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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Texto: Da comédia para o terror - Tragicômico


Confesso que nunca imaginei que passaria por caminhos tão tortuosos como esse. Só esse ano vi minha vida de Sitcom se tornar um dos melhores filmes de terror que eu já vi. Todos assistem animados... até eu assistiria. Amo os dois gêneros, mas não agora. Me sinto triste, devastado com o peso que carrego mesmo depois de emagrecer 10 quilos. Eu deveria estar feliz?

Muitas dores, muitas coisas para fazer. Minha cabeça diz "seja simpático" até que chega ao ponto em que estou: exausto. E só assim me sinto bom o bastante para dar um belo foda-se pra atitudes politicamente corretas. As pessoas são boas, mas nem todas. O que aprendi? Que o meu drama pode ser visto de forma cômica por outros. De fato, eles não estão sentindo nada. Apenas estão sentados em uma poltrona confortável ou um sofá de casa entorpecidos com a tela que não representa bem o tamanho dos problemas que todos temos, mas deixamos fora desse momento. Abandonamos a dor, mas ela leva mais com ela do que podemos imaginar.

Eu desenhava e escrevia, hoje só escrevo. Eu caminhava e brincava, hoje só caminho, quando posso. Sobra um tempo pra um sorriso, dar um obrigado, ouvir conselhos de um desconhecido... coisas assim fazem eu querer continuar, ver até onde isso pode chegar. Testar meus limites parece ser minha única forma de viver uma aventura, já que não tenho como viajar para muito longe, não tenho como começar do zero em um lugar completamente novo, eu não tenho mais jeito. Talvez o terror seja o limite ou apenas os créditos finais de quem está cansado.

Um dia eu nasci e estou até então crescendo, as dores crescem também. Torço para que nos momentos difíceis ainda me sobrem lágrimas, pois eu só não tenho medo de chorar. Se você faz parte desse filme de terror chamado "Minha Vida", por favor, entenda que não tive o melhor começo, mas quero melhorar... e vou. Afinal, se minha vida era uma série de comédia feliz e hoje é um filme de terror daqueles, ao menos estou feliz por estar num longa-metragem. Isso é um verdadeiro crescimento.