Você entrou no meio da minha leitura. Meu lazer foi interrompido com seu olhar curioso e livre. Pensei, que belo atrevimento após mais um carnaval isolado, mas você correu ao me ver surpreso, e eu entendo. Certa vez, na escada, você estava como qualquer outra, atrapalhando o caminho e se espremendo para não ficar ali por mais tempo, mesmo assim o olhar curioso e livre me atingiu entre grades, arames e folhas de acerola. Quando saí, não te encontrei mais, mas outra que sempre esteve ali me esperava com um olhar cansado e um pouco desajeitado, ela fazia isso com todos, todo santo dia.
Ambos os olhares são bem-vindos para quem se sente só, e um dia você estava disposta a explorar: foi pega de surpresa! Agora meu olhar estava cuidando de longe e torcendo para que fosse recíproco. No dia seguinte, preferi ficar em casa, entre leituras você conseguiu fazer meu dia feliz e minha tarde infeliz, não seria a primeira, nem será a última. Me senti horrível, pensei enquanto sangrava... pensei enquanto lia... desejei que você se tornasse cinzas.
Minhas feridas foram limpas na chuva, os arranhões me queimaram e as mordidas abafaram meus sentimentos. Detesto imaginar que só eu possa te ajudar. Que mundo é esse que lhe colocaria em minhas mãos?! Não tenho poder, tenho raiva ardendo em mim. Espero que sinta arrependimento, junto com a mesma raiva. Em outros carnavais eu serei curioso? Só sei que jamais fui livre, como você. Nosso amor durou até o fim de Fevereiro, Março só a lembrança ficou viva.